roer as unhas faz bem aos livros

Á minha frente uma mulher lia. Completamente embrenhada na leitura, lia devagar. O braço apoiado no encosto do vidro e uma das mãos a segurar a cabeça inclinada. O livro, de capa dura, dizia alma e coração mas o autor não consegui descobrir. Leu a viagem toda. Uma mulher esperava do lado de fora, na plataforma, para entrar. Pelos sapatos da segunda que a primeira não calça percebo qual delas é mais inteligente, e também percebo, qual delas é uma mulher apaixonada pelas unhas da primeira que a segunda não rói. Também se pode perceber isto pelo absinto sonhador que tem nos olhos quando lê. Leu a viagem toda, e nunca mais a vi. É por isto que eu nunca, ou raramente, leio livros no metro. Para poder encontrar mulheres perdidas.

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